sábado, 7 de dezembro de 2013

Reflexologia: bem-estar dos pés à cabeça


A reflexologia diz-nos que a partir da estimulação de determinadas zonas dos pés e mãos é possível sentir efeitos positivos em todo o organismo. Mas será a reflexologia uma terapia ou afinal não é muito diferente de uma massagem aos pés?
A reflexologia é uma terapia que se baseia no princípio de que existem nos pés e nas mãos e até na cabeça áreas reflexas que correspondem a órgãos, glândulas e outras partes anatómicas do nosso organismo.

O princípio é simples de se entender: através da aplicação de pressão sobre estes pontos – sem o uso de ferramentas ou loções esotéricas –, principalmente nos pés, a reflexologia vai ajudar a aliviar a tensão e a melhorar a circulação, promovendo as funções naturais do nosso organismo.

Explica-nos a reflexologista Idalina Marques que "o terapeuta de reflexologia, ao estimular essas áreas, através de técnicas específicas, evoca do organismo uma resposta adequada e orientada para a regularização e manutenção da homeostasia, condição essencial do estado de bem-estar físico, mental e espiritual".

O que se procura durante uma sessão de tratamento, diz-nos Idalina Marques, é pressionar os "recetores sensoriais localizados nas camadas superficiais da pele do pé, o que vai gerar um impulso nervoso que é conduzido até ao sistema nervoso central". Daí que os reflexologistas defendam o efeito positivo que esta terapia pode ter nas mais diversas funções corporais, como a digestão, a circulação sanguínea e linfática, a excreção, respiração e até as defesas do nossos sistema imunitário.

De tempos antigos até ao presente

Os primeiros "passos" desta terapia milenar terão sido dados ainda no antigo Egito e na antiga China – a perspetiva holística, de ver o corpo como um todo, é característica da medicina tradicional chinesa e terá sido uma influência clara na génese desta terapia. Idalina Marques realça o facto de a medicina tradicional chinesa "incitar o organismo a curar-se a si próprio através de estímulos específicos". Eduardo Luís, também ele reflexologista, começou inclusive por se formar em medicina chinesa, antes de se dedicar mais pormenorizadamente à reflexologia.

Mas embora as suas origens remontem a tempos antigos, foi só no século XX, primeiro com o trabalho de William Fitzgerald (que desenvolveu aquilo a que se chamava commumente de terapia de zona), e mais tarde com o trabalho de Eunice Ingham, considerada "a mãe da reflexologia moderna", como realça Idalina Marques, que a reflexologia começou a ganhar adeptos em larga escala a Ocidente.

Hoje em dia é uma terapia complementar que tem sido tema de debate e diversos estudos. Alguns acusam-na de se tratar de mero placebo. Mas uma análise simplista corre o risco de falhar o alvo: é o próprio reflexólogo Eduardo Luís que realça que um especialista da área não deve diagnosticar, nem prescrever. Ou seja, o objetivo não é substituir-se a um tratamento médico convencional. Até porque a ideia aqui a ter em conta é que a reflexologia por si só não é suficiente para assegurar o bem-estar. As condições de vida, o ambiente ou a nutrição, por exemplo, são fatores importantes a ter em conta, já que todos desempenham um papel fundamental no nosso estado global de saúde. O que a reflexologia defende é o seu papel nesta promoção do equilíbrio global. Mas como é que isto funciona na prática?

Na hora da consulta...

Numa consulta-padrão, que pode demorar cerca de uma hora (embora a primeira possa demorar mais), o reflexologista pode começar por fazer perguntas de saúde, antes de dar atenção aos pés propriamente ditos do paciente. Trabalha-se a um nível cénico (Idalina Marques realça que a "música ambiente e aromoterapia podem ajudar a criar um ambiente ainda mais adequado") e relacional. O terapeuta vai procurar recolher informação sobre os dados pessoais, a condição presente, a história clínica e o estilo de vida.

A partir daqui é altura de, literalmente, "pôr mãos à obra". Não se estranhe se houver alguma sensação de "formigueiro" (uma pequena impressão) noutras áreas do corpo, enquanto os pontos onde o terapeuta se foca estão a ser estimulados. É que estes pontos são parte integrante daquilo a que os terapeutas de reflexologia referem como meridianos. E o que são meridianos? A especialista em reflexologia diz-nos que se tratam de "canais energéticos que percorrem todo o nosso corpo e por onde circula a energia vital (Qi)".

Falar em energia não é definitivamente o léxico mais habitual quando falamos de saúde e bem-estar. Mas é precisamente aqui que a reflexologia coincide com os princípios da medicina tradicional chinesa. Está a ver aquela "bizarra" escolha da acupuntura que, ao querer aliviar uma dor de cabeça, coloca uma agulha numa parte completamente diferente do organismo? Bem, o princípio é o mesmo: estamos a trabalhar ao nível dos meridianos. E embora este seja o ponto em que mais facilmente nos ocorre duvidar do valor científico de uma terapia assim, não deixa de ser curioso que alguns destes meridianos sob os quais a medicina tradicional chinesa (e restantes terapias que nela encontraram influência) sempre trabalhou, serem coincidentes com trajetos neurológicos importantes. "Não pode haver dúvidas em relação à existência de uma forte ligação entre a reflexologia e a acupunctura", reconhece Idalina Marques.

Mas se a reflexologia procura também o relaxamento – e afirma consegui-lo através de pontos nos pés e mãos, de que forma é que se distingue de uma massagem comum, também ela promotora de relaxamento e bem-estar? Diz-nos a terapeuta que, "enquanto que na massagem normal são trabalhados a pele, os músculos e se mobilizam as articulações de modo a obter um efeito relaxante, na reflexologia aplicam-se estímulos de acupressão, com a polpa do polegar e/ou indicador, em todas as áreas reflexas do pé/mão, através de técnica especificas, com incidência nas áreas e pontos em que o utente/cliente identificou como dolorosas e ainda naquelas em que o terapeuta percecionou desequilíbrios energéticos. O efeito é relaxante mas também indutor de respostas neurofisiológicas e energéticas responsáveis pela reposição de equilíbrio do organismo", pormenoriza.

Uma aposta na promoção do bem-estar

"Todas as pessoas, crianças, jovens, adultos e idosos podem beneficiar da reflexologia", realça Idalina Marques. Uma posição secundada pelo colega Eduardo Luís, que refere que a reflexologia só é "contraindicada quando é feita por terapeutas não qualificados".

E tratando-se de uma terapia complementar, pode fazer o seu papel de alívio tanto de modo preventivo (promoção de bem-estar) como de ajuda a um outro tratamento que esteja a decorrer. Tal como acontece com outras terapias complementares, são por vezes pacientes oncológicos que procuram esta ajuda "extra". Algo compreensível, se pensarmos no quão exigente pode ser um tratamento de quimioterapia ou radioterapia. Na Dinamarca, por exemplo, alguns municípios mantém a possibilidade de comparticipar a reflexologia, tentando assim promover uma perspetiva da saúde mais preventiva.


Mas o campo de ação de reflexologia é abrangente. A título de resumo, Idalina Marques dá alguns exemplos: "perturbações ligadas ao stressinsónias, medos, depressão, perturbações digestivas, perturbações respiratórias, distúrbios na circulação sanguínea e linfática, dores musculares", ou seja, nos mais diversos campos onde seja possível promover o relaxamento e o reequilíbrio do organismo.



Fontes:
- Eduardo Luís, reflexologista
- Idalina Marques, reflexologista
- Reflexology, in American cancer Association


Escrito por  Pedro F. Pina, com entrevistas a Eduardo Luís e Idalina Marques, reflexologistas

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