domingo, 15 de maio de 2011

Olhos abertos nos seus pés





A prática de esportes é condição essencial para manter a qualidade de vida. Corra, caminhe, mas fique de olhos bem abertos nos seus pés

Antes de relaxar, após uma caminhada ou corrida, vale olhar com atenção para os pés à procura de bolhas ou machucados.

Sobram metáforas e frases que têm os pés como inspiração. Eles são nosso alicerce, nossa base, são eles que firmamos quando temos certeza de algo ou colocamos para o alto quando queremos passar a ideia de boa vida. E por aí vai. Tanta analogia não é gratuita: a parte final dos membros inferiores ajuda mesmo na sustentação do corpo. Para quem pratica esportes, como corrida e caminhada, os 26 ossos, os 107 ligamentos, as 33 articulações e dezenas de músculos dos pés precisam funcionar com afinação de orquestra. Por causa do alto impacto e da sobrecarga de movimentos, eles são facilmente afetados. Uma pisada errada aqui pode levar a uma dorzinha acolá e acabar com semanas de preparo e treinamento.

Para quem tem diabetes, a preocupação com os pés é ainda mais acentuada, pois essa região do corpo é suscetível a uma série de problemas conhecidos genericamente como pé diabético. Isso não quer dizer que é preciso tratar os pés como joias intocáveis. Ao contrário: colocá-los em movimento com o exercício ajuda não apenas a afastar problemas nas extremidades dos membros inferiores como pode melhorar bastante o controle glicêmico. A diferença está na atenção especial e diferenciada que se deve dar a essa parte do corpo.

“A recomendação é que os pés sejam examinados antes e depois da atividade física”, diz o professor William Ricardo Komatsu, coordenador do departamento de atividade física da Sociedade Brasileira de Diabetes - SBD. Observando e tocando, deve-se procurar por bolhas, cortes ou perda de sensibilidade.

Atividade aeróbia ajuda a manter os níveis glicêmicos e ainda dá um tremendo bem-estar

“A principal recomendação para quem tem diabetes é que o tênis seja um ou dois números maior que o do sapato, além de ter o calcanhar um pouco elevado, para absorver melhor o impacto, e um solado que obedeça à forma do pé – se ele é pronado ou supinado, por exemplo”, explica o professor Komatsu.

Para quem não é familiar aos termos, eis as explicações: na pisada pronada, o pé toca o chão primeiro na região do dedinho e termina no dedão; na supinada, acontece o contrário, começa no dedão e termina na parte externa do pé. Existem tênis adequados para cada tipo e eles fazem muita diferença na hora de evitar lesões que podem comprometer tornozelos, joelhos e até mesmo a coluna.

A preocupação com essas lesões é igual para todo corredor. “Não existe nenhum trabalho científico que associe o fato de a pessoa ser diabética com a maior incidência de lesões”, confirma o médico Rogério Teixeira da Silva, coordenador do NEO (Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia). “O que temos de nos preocupar é com a indicação adequada de calçados”, complementa.

Dicas de quem encarou o desafio

“Compre um bom tênis e uma pochete de running para colocar o monitor de glicemia e os alimentos, em caso de hipos. Comece com 15 minutinhos, três vezes por semana, alternando corrida e caminhada. Quando conseguir correr uns 30 minutos, inscreva-se em uma prova de 5 km e convoque um amigo para ir com você para se sentir mais seguro. Escreva atrás do número de peito que você tem diabetes — há pulseiras de identificação também, vale a pena! —, qual medicação usa e telefones de emergência. Depois da primeira prova, vira rotina e fica fácil!”

“A primeira coisa que quem tem diabetes deve ter em mente é começar sem medo de se sentir deslocado. A segunda é encontrar alguém que já tenha uma rotina de corridas, tendo diabetes ou não, e ambos inscreverem-se em uma caminhada ou uma corrida de 5 km. Ter uma prova no nosso calendário é sempre motivador. Começar a correr é como tomar uma chuva: os primeiros pingos sempre incomodam, mas, depois que estamos encharcados, a chuva torna-se tão agradável!”

“O pé diabético é um problema que tende a acometer pessoas que não fazem bom controle glicêmico e estão sujeitas a complicações”, alerta a professora doutora da Unifesp, Odete Oliveira, enfermeira especializada em diabetes

Pedra no sapato

Pé diabético é um termo usado para várias condições que podem afetar os membros inferiores. A mais comum é a neuropatia periférica, caracterizada pela perda da sensibilidade nessa região. Ela normalmente começa nos dedos e cresce pelos pés. O grande problema é que, muitas vezes, ela só é detectada tardiamente, após uma lesão ou ferida nos pés. O quadro pode evoluir para necrose do tecido e, em casos mais graves, levar à amputação. Daí a importância de sempre tocar e examinar os pés, independentemente da prática de exercícios.

Fique atento aos seguintes sintomas:
› formigamento
› pontadas
› queimação ou dor
› incapacidade de sentir frio ou calor ou ainda sensibilidade extrema ao toque
› perda de coordenação motora e dos reflexos
› cãibras e fraqueza

Carinho para os pés
Cuidados válidos para pés de esportistas ou mesmo de quem não é:
› Lave os pés cuidadosamente e seque-os bem, podendo usar até um secador de cabelos para garantir que não sobre umidade
› Corte as unhas acompanhando o formato dos dedos. Se o médico achar necessário, deixe o trabalho de cortar as unhas para um podólogo
› Use meias de algodão adequadas para corrida e descarte-as quando o tecido começar a fazer bolinhas
› Compre tênis de corrida sempre um ou dois números maior que o usual. O cabedal (o “corpo” em tecido do calçado) deve ter um material especial, que permita a transpiração adequada, evitando maior atrito na hora da prática esportiva
› Em corridas de longa distância (acima de 10 km), aplique um pouco de vaselina nos pés para evitar atrito e bolhas. Há corredores que usam dedais de silicone ou colocam esparadrapo entre os dedos com o mesmo objetivo
› Massageie os pés após a corrida e veja se não ficou nenhum machucado
› Caso sinta alguma alteração na sensibilidade dos pés ou alguma lesão na pele ou nas unhas, procure o médico

Nenhum comentário:

Postar um comentário